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Foto do escritorMônica Sanoli

Os últimos seis meses em livros

Em algum momento nos últimos seis meses eu parei de dar notas para livros e classificá-los com estrelas. O resultado foi que eu me preocupei mais em ler histórias que realmente me atraiam, e não só para seguir o hype. Não que não tenha lido livros novos, famosinhos e polêmicos, mas li porque quis e com mais liberdade. É isso, daqui a pouco eu estou criando galinhas e lendo à luz de velas. Que sonho.


Rapidinho, então, um pouquinho sobre os nove livros que eu mais gostei, em nenhuma ordem específica:


Capa do livro Anne de Green Gables, com uma garota ruiva de costas, em meio a um jardim, olhando para uma casa ao longe. O esquema é feito com massa de modelar.

Anne de Green Gables, de L. M. Montgomery


Quando os irmãos Marilla e Matthew Cuthbert, de Green Gables, na Prince Edward Island, no Canadá, decidem adotar um órfão para ajudá-los nos trabalhos da fazenda, não estão preparados para o “erro” que mudará suas vidas: Anne Shirley, uma menina ruiva de 11 anos, acaba sendo enviada, por engano, pelo orfanato.


Apesar do acontecimento inesperado, a natureza expansiva, sempre de bem com a vida, a curiosidade, a imaginação peculiar e a tagarelice da menina conquistam rapidamente os relutantes pais adotivos. O espírito combativo e questionador de Anne logo atrai o interesse das pessoas do lugar – e muitos problemas também.


No entanto, Anne era uma espécie de Pollyanna, e sua capacidade de ver sempre o lado bonito e positivo de tudo, seu amor pela vida, pela natureza, pelos livros conquista a todos, e ela acaba sendo “adotada” também pela comunidade.


Publicada pela primeira vez em 1908, esta história deliciosa, que ilustra valores fundamentais como a ética, a solidariedade, a honestidade e a importância do trabalho e da amizade, teve numerosas edições, já tendo vendido mais de 50 milhões de cópias em todo o mundo. Foi traduzida para mais de 20 idiomas e adaptada para o teatro e o cinema.


Que surpresa! Eu não imaginava que fosse gostar desse livro, muito menos o tanto que gostei.


Capa do livro Something Wicked This Way Comes, com um cavalo de carrossel desenhado em um ângulo assustador, com a boca aberta e o olho arregalado.

Something Wicked This Way Comes, de Ray Bradbury (Algo sinistro vem por aí, na tradução publicada pela Bertrand em 2019)


It's the week before Hallowe'en, and Cooger and Dark's Pandemonium Shadow Show has come to Green Town, Illinois. The siren song of the calliope entices all with promises of youth regained and dreams fulfilled . . .


And as two boys trembling on the brink of manhood set out to explore the mysteries of the dark carnival's smoke, mazes and mirrors, they will also discover the true price of innermost wishes . . .


Um parque de diversões itinerante chega a uma pacata cidade do meio-oeste dos Estados Unidos. No entanto, sob tendas e luzes coloridas esconde-se algo ameaçador: um paraíso infernal. Envoltos pelas intrigantes atrações, os espectadores passam por transformações assustadoras que poderão mudar suas vidas de maneira diabólica. Ávidos por aventura, os amigos de infância Jim Nightshade e William Halloway mergulham nesse curioso circo de horrores para descobrir o que há por trás das atrações. Após se depararem com uma caravana do mal, a dupla tem de desvendar o pesado custo dos desejos... e a fábrica dos seus piores pesadelos.


Esse foi uma recomendação do King. É um dos livros que ele discute em Danse Macabre, junto de The Haunting of Hill House, da Shirley Jackson, Ghost Story, do Peter Straub, e outros. Eu li no original e adorei. Link para o livro em português aqui.


Capa do livro Betty, com uma foto rosa azulada de uma pequena garota posando de braços cruzados e um olhar desafiador.

Betty, da Tiffany McDaniel


So begins the story of Betty Carpenter.

Born in a bathtub in 1954 to a white mother and a Cherokee father, Betty is the sixth of eight siblings: the world they inhabit in the rural town of Breathed, Ohio, is one of poverty and loss, of lush landscapes and blazing stars.


Despite the hardships she encounters, Betty is resilient. Her curiosity about the natural world, her fierce love for her sisters and her father's brilliant stories are kindling for the fire of her own imagination, and in the face of all to which she bears witness - the horrors of her family's past and present - Betty discovers an escape: she begins to write.


Betty conta a história de uma garota meio branca, meio Cherokee, que foi criada em um lar tão conturbado pela violência, abuso e ódio de outros, que o amor tinha que lutar muito para vingar. Em meio à pobreza e a uma comunidade branca e preconceituosa, Betty é criada por um pai que não se envergonha de sua história e dos seus antepassados, e insiste em transmitir sua cultura para a filha, fazendo questão de ensiná-la a viver uma vida simples em meio a natureza, e por uma mãe endurecida por inúmeros abusos e dificuldades. Seguindo os conselhos do pai, Betty começa a escrever e é na escrita que ela encontra amparo e tenta processar tudo que sente.


Assim como The Summer That Melted Everything, Betty se passa em Breathed, Ohio, e é um trabalho de uma sensibilidade fora do comum. Eu chorei por muito tempo ao terminar de ler. A Tiffany McDaniel não brinca em serviço, e, nessa altura do campeonato, eu estou disposta a ler qualquer coisa que ela escrever. Infelizmente, ela não é publicada aqui no Brasil. Porém, se você consegue ler em inglês, a versão para o Kindle, na data de publicação deste post, está em torno de R$20.


Capa do livro Profundezas Sombrias, com fundo roxo e desenhos de mandalas e luas em cor creme.

Profundezas Sombrias, da Juliana Daglio (O Lago Negro, Livro 3)


Nas profundezas da mente de Verônica, estão os segredos que unem todas as famílias dessa trama misteriosa: Cattani, Caprini, Carballo e, também, os Velásquez. Mas para descer a esse local sombrio de suas memórias, precisará da ajuda do psiquiatra e mentalista talentoso a quem deve, antes de tudo, o fato de jamais ter se lembrado de seus traumas. Drake tem a chave de suas memórias, um transe hipnótico poderá emergi-las. Liam precisa protegê-la até que a submersão se complete. Contudo, as horas ao lado de Drake podem obrigar Liam a também enfrentar o seu próprio passado e seus monstros.

Essa alucinante jornada dos nossos protagonistas levará os leitores a um mundo fantástico. Uma parte da história que poderá revelar não só os segredos dos personagens, mas também causar reflexões profundas ao expectador mais desavisado. Afinal, o que você guarda nos lugares mais recônditos de sua mente?


A Ju é a única autora que se repete nessa lista. Quem não conhece Juliana Daglio está perdendo uma das melhores vozes do terror nacional que temos atualmente. Profundezas Sombrias é o terceiro livro da (por enquanto) trilogia O Lago Negro, disponível no Kindle Unlimited.


Capa do livro Arboreto, 1990: uma mão preta saindo do solo, com borboletas pretas ao redor, formando a sugestão de uma árvore, tudo contra um fundo composto por um céu avermelhado.

Arboreto, 1990, do Álvaro Maestrini


Nas férias de julho de 1990, três crianças desaparecem de madrugada em uma cidade do interior de Minas Gerais. Enquanto seus amigos buscam pistas sobrenaturais para descobrir o que aconteceu, um promotor de justiça e um delegado de polícia seguem uma linha de investigação convencional.


Quem ou o que está por trás do sumiço das crianças? Elas continuam vivas? Tiveram o mesmo destino? Será possível encontrar resposta para cada uma dessas perguntas?


Repleta de suspense, personagens cativantes e elementos da cultura pop brasileira das décadas de 80 e 90, a trama nos convida a refletir sobre temas como racismo e fé, mantendo a atmosfera de mistério até um desfecho inimaginável.


Uma história muito importante contada através das amizades entre um grupo de crianças no começo dos anos 1990. Disponível no Kindle Unlimited.


Capa do livro Cidade das Orações Perdidas: fundo cinza com o desenho em preto de uma pata de bode.

Cidade das Orações Perdidas, da Juliana Daglio


Pela segunda vez em menos de trinta dias, a garota sumiu.


A Editora Contracorrente tem a satisfação de anunciar a publicação do livro Cidade das orações perdidas, uma ficção de Juliana Daglio, aclamada autora da literatura de horror nacional.


Baseado em histórias que costumavam assustar crianças antes de dormir, histórias contadas por avós ao redor de fogueiras, este romance resgata lendas conhecidas no interior do país para, por meio do engenho da autora, oferecer ao leitor uma experiência singular com o mistério e o mal, ao mesmo tempo em que lida com valores profundamente humanos.


Ambientado em uma cidade fictícia da Cuesta do Estado de São Paulo, este livro de terror narra o inusitado encontro entre um policial (Virgílio) afastado do ofício depois de uma tragédia em sua vida e uma garotinha rejeitada (Ramona) que encontra nele a solução de um dos maiores mistérios de sua curta existência. Com frequentes desaparecimentos, Ramona é sempre reencontrada em cenas em que ocorreram crimes hediondos. Ao ser adotada pelo irmão de Virgílio, passa a depositar em seu novo “tio” a missão de ajudá-la a evitar que essas desgraças aconteçam.


No entanto, uma figura emblemática surge no caminho de ambos. O Homem- dos-pés-de-bode, que ganha forças durante as celebrações que ocorrem entre os dias 31 de outubro e 02 de novembro, está decidido a liquidar a parceria da dupla.


Em Oratório, espaço onde se desenvolve este romance sombrio, preces não são ouvidas, ao contrário do que o nome da cidade parece sugerir. Assim, resta aos protagonistas da história contar com si mesmos no embate contra esse monstro. Nesse contexto de desalento, poderiam uma criança abandonada e um policial desvairado vencer uma lenda tão mortal?


A melhor obra da Juliana Daglio. Impecável, imperdível, eu só quero mais da Ju, rs. Aliás, contém easter eggs de O Lago Negro ;)


Capa do livro I'm Glad My Mom Died: um fundo amarelo claro, com a autora em um retângulo rosa, segurando uma urna rosa e dando um sorriso sem graça, sem mostrar os dentes.

I'm Glad My Mom Died, da Jennette McCurdy


Um comovente e hilário livro de memórias da estrela Jennette McCurdy sobre suas lutas como ex-atriz infantil – incluindo distúrbios alimentares, vícios e o complicado relacionamento com sua mãe autoritária – e como retomou o controle de sua vida. Jennette McCurdy tinha seis anos quando realizou seu primeiro teste para atriz. O sonho de sua mãe era que sua única filha se tornasse uma estrela, e Jennette faria qualquer coisa para deixá-la feliz. Então obedeceu ao que a mãe chamava de “restrição calórica”, comendo pouco e pesando-se cinco vezes por dia. Também sofreu extensos procedimentos estéticos “caseiros”, como na passagem onde a mãe insistia que Jennette tingisse os cílios: “Seus cílios são invisíveis, sabia? Você acha que a Dakota Fanning não pinta os dela?” Jennette chegou ao cúmulo de ser banhada pela mãe até os dezesseis anos, além de ser forçada a mostrar o conteúdo de seus diários e e-mails e compartilhar toda a sua renda.


Em Estou Feliz que Minha Mãe Morreu, Jennette narra tudo isso em detalhes – assim como o que acontece quando o sonho finalmente se torna realidade. Lançada em uma nova série da Nickelodeon chamada iCarly, ela foi impelida à fama. Embora sua mãe estivesse em êxtase, enviando e-mails aos moderadores do fã-clube e tratando os paparazzi pelo primeiro nome (“Oi, Gale!”), Jennette sentia muita ansiedade, vergonha e autoaversão, que se manifestavam na forma de distúrbios alimentares, vícios e uma série de relacionamentos tóxicos. Tais problemas só pioraram quando, logo após assumir a liderança no spin-off de iCarly, Sam & Cat, ao lado de Ariana Grande, sua mãe veio a falecer de câncer. Finalmente, depois de descobrir a terapia e parar de atuar, Jennette embarcou na recuperação e passou a decidir, pela primeira vez na vida, o que realmente queria. Narrada com franqueza e humor ácido, Estou Feliz que Minha Mãe Morreu é uma história inspiradora de resiliência, independência e a alegria de poder lavar o próprio cabelo.


Um livro difícil de ler (ou ouvir) e cheio de gatilhos. Mas, um relato sincero e de quebrar o coração. Eu ouvi o audiobook em inglês, que é lido pela própria autora, e acho que é outra experiência. Se você puder, recomendo (disponível pelo Storytel).


Capa do livro The Midnight Tour: a imagem de uma casa envolta em sombras contra um céu avermelhado, carregado de nuvens.

The Midnight Tour, do Richard Laymon


For years morbid tourists have flocked to the Beast House, eager to see the infamous site of so many unspeakable atrocities, to hear tales of the beast said to prowl the hallways. They can listen to the audio tour on their headphones as they stroll from room to room, looking at the realistic recreations of the blood-drenched corpses...


But the audio tour only gives the sanitized version of the horrors of the Beast House. There are some facts too gruesome for the average thrill seekers. If you want the full story, you have to take the Midnight Tour, a very special event strictly limited to thirteen brave visitors. It begins at the stroke of midnight. You may not live to see it end.


O livro, que não tem tradução para o português, mas seria algo como "O Tour da Meia-Noite", conta a história de uma casa (Beast House, a Casa da Besta) onde vários massacres ocorreram no passado e que agora é uma atração turística onde bonecos de cera são usados para representar todas as atrocidades dos ataques, enquanto os turistas percorrem o local com duas das sobreviventes narrando o tour durante o dia. O tour da meia-noite, evento especial que só acontece aos sábados, reúne um grupo mais seleto de fãs e revela partes da casa que ficam fechadas durante o dia. Em especial, o porão.


É um terrorzão absurdo, com body horror e um toque de comédia misturado com erotismo. Meu marido trouxe o paperback quando voltou do intercâmbio que fez para os Estados Unidos (muito provavelmente sem ter ideia do que se tratava a história). Quando eu peguei para ler, descobri que é a continuação de uma série, mas você não precisa ler os primeiros para entender ou gostar desse. Disponível em inglês no Kindle Unlimited.


Capa do livro Santo Guerreiro, Roma Invicta: um esquema que reproduz um vitral de São Jorge enfiando a lança no dragão, em um fundo alaranjado.

Santo Guerreiro: Roma Invicta, do Eduardo Spohr (Vol. 1)


No fim do terceiro século, o Império Romano estava à beira do colapso. Invasões bárbaras, confrontos religiosos e insurreições militares ameaçavam a soberania dos césares. No Leste, a poderosa rainha Zenóbia reuniu uma tropa de guerreiros montados e assumiu o controle da Síria. Caráusio, o almirante da frota romana no Canal da Mancha, ocupou as províncias do Oeste e se autoproclamou imperador da Britânia.


Em meio à desordem e ao caos, Laios Graco, alto oficial da cavalaria, é morto e suas terras, roubadas. Seu filho, o jovem Georgios, foge para a capital com o objetivo de se apresentar ao imperador Diocleciano, antigo companheiro de seu pai, na esperança de ser aceito no exército, tornar-se soldado, recuperar suas posses e vingar a família.


Santo Guerreiro conta a versão mais fidedigna da vida de São Jorge já escrita. Com base em documentos históricos e vestígios arqueológicos, o autor nos transporta de volta à Antiguidade tardia, a um tempo em que o aço, o amor e a intriga governavam o destino dos homens ― e, por conseguinte, os rumos da história.


Um dos santos mais populares do mundo, São Jorge é adorado por católicos, ortodoxos, anglicanos e devotos das religiões de matriz africana. Na iconografia, ele é representado por um cavaleiro brilhante, usando armadura completa, armado de lança e enfrentando um dragão.


Essa imagem, entretanto, é meramente alegórica. De acordo com a tradição, Jorge ― ou Georgios, seu nome grego ― não foi um guerreiro medieval, mas um soldado romano, que nasceu no século III e morreu executado após repudiar os deuses pagãos.


Embora não haja registros que confirmem a existência do santo, há uma infinidade de fontes históricas que descrevem o mundo em que ele teria vivido. Diocleciano, que governou o Império Romano entre 284 e 305 d.C., promoveu a última grande perseguição aos cristãos, ceifando perto de três mil vidas. Durante sua administração, a sociedade mediterrânea sofreu com a invasão dos persas, o assédio dos germânicos no extremo norte e uma série de revoltas internas. Diocleciano também transferiu a capital de Roma para a Nicomédia, na Anatólia (atual Turquia), e criou uma guarda particular, uma tropa de elite da qual, supostamente, Georgios fez parte.


Santo Guerreiro: Roma Invicta é o primeiro livro de uma trilogia que se propõe a contar a biografia de São Jorge pelo prisma histórico. Trata-se de uma obra de ficção, que não pretende desafiar doutrinas ou dogmas, mas lançar luz sobre esse personagem que, seja real ou simbólico, é tão querido e admirado por milhares de fiéis em todo o planeta.


Por que eu demorei tanto para ler? A escrita do Dudu está ainda melhor, e foi uma delícia matar as saudades da narrativa dele.


Ficou com vontade de ler algum desses livros? Eu espero que sim! Me conta qual você escolheu nos comentários e vamos trocar uma ideia. Boa leitura!

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